Uma Coligação
Quão pesada é uma cidade? Esta questão aparentemente simples emerge de longas conversas, amizades, reflexões críticas e colaborações com uma coligação crescente de pessoas da área da ciência, da arquitectura, do urbanismo, das artes, da filosofia, da investigação e da prática.
Primeiro, trata-se de uma interrogação sobre a caracterização material da intensificação da actividade humana, que marca a rápida transição da Terra para uma nova fase da sua história de 4,6 mil milhões de anos – o que os cientistas designam por Antropoceno. Uma estimativa preliminar sugere que a tecnosfera tem uma massa de cerca de 30 biliões de toneladas. Este valor corresponde à soma dos componentes terrestres e marinhos que fazem parte dos fluxos activos da matéria e da energia que sustentam a humanidade.
Esta pergunta é, também, uma questão de multiplicidade. Remete para noções de magnitude, organização espacial, forma, tecnologia, materialidade e para as múltiplas relações que os espaços humanos estabelecem com outras entidades. Expande e multiplica a noção de coabitação e do que entendemos como cidade. É uma questão sobre materialidade e imaterialidade, sobre os espectros da modernidade e as nossas tecnologias multiespectrais.
Quão pesada é uma cidade? Encaramos esta pergunta como ponto de partida para muitas outras, cada uma suscitando uma curiosidade renovada sobre o que significa dar forma à coabitação, reunir novas formas de acção, negociar a pluralidade de formas de conhecimento e os desafios que o Antropoceno impõe de forma inequívoca.
Com uma magnitude semelhante à da biosfera, a massa da tecnosfera cresce e intensifica-se rapidamente, deixando um enorme rasto de resíduos: no céu, na água, à superfície e nas camadas mais profundas da Terra, dos sedimentos até às suas órbitas. Impulsionada pelas dinâmicas de combustão intensiva de recursos fósseis e pela lógica extractivista, está a transformar todos os lugares e a afectar todas as formas de vida; como podemos torná-la mais leve?
Quão pesada é uma cidade? Uma questão simples que convoca uma nova coligação em prol da acção. Uma pergunta que evoca uma nova arquitectura. Um apelo a repensar a cidade da humanidade como parte de uma aliança com outras entidades formadoras, com uma Terra viva.